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Mensagens chegam com notícias da família, orações e até resumos sobre as partidas de futebol dos times dos pacientes
Segundo pesquisas nas áreas de Neurociência e Neuropsicologia, a presença de uma pessoa querida durante o tratamento médico é um estímulo positivo para a recuperação do paciente. Porém, a covid-19 mudou a rotina nas unidades de saúde. Com isso, as visitas aos leitos foram proibidas.
Para manter o contato entre pacientes e familiares nesse período, o Hospital Municipal – Unidade Covid-19 de Araguaína, no Tocantins, passou a adotar um novo mecanismo. Agora, a família envia mensagens de voz pelo WhatsApp e os profissionais reproduzem-nas para os usuários intubados.
A iniciativa tem sido bem acolhida pelos familiares. Alguns até detalham o desempenho do time do paciente nos campeonatos.
“Já tocamos vários áudios de familiares e amigos de pacientes, alguns com orações, outros enviando força. Também há aqueles que dão notícias, como foi o caso de um familiar que contou para o paciente que estava intubado que o time dele estava disputando um campeonato, falou que a campanha estava ótima e que os jogadores estavam muito bem em campo”, conta o psicólogo Thenardy Vieira Capurro, que coordena o projeto.
O Hospital Municipal – Unidade Covid-19 de Araguaína é custeado pela Prefeitura Municipal e gerenciado pelo ISAC – Instituto Saúde e Cidadania.
Perto, mesmo estando longe
Marlene Pereira de Sousa foi intubada e levada de UTI aérea de Gurupi, na região sul do Tocantins, para o HM – Unidade Covid-19 de Araguaína. Foram dias tensos para a filha dela, Ranielle Gomes de Sousa.
“Enviei várias mensagens de voz para a minha mãe. Falei que estava tudo bem em casa, que todo mundo estava com saudades dela e que logo ela retornaria, que sua recuperação no hospital seria bem rápida. Graças a Deus deu tudo certo. Ela já recebeu alta e está conosco descansando”, destacou Ranielle.
Chamadas de vídeo
O psicólogo explica que a iniciativa também ajuda os pacientes que não estão intubados, diminuindo sua ansiedade, estresse e o sentimento de solidão. Nesse caso são feitas chamadas de vídeo regulares com os familiares.
“Cada pessoa é diferente em comportamento, temperamento, então a gente vai trabalhando conforme essas necessidades”, explicou Thenardy.
Décadas de estudos científicos
O artigo científico “A percepção auditiva nos pacientes em estado de coma: uma revisão bibliográfica” relata vários casos em que o cérebro de pacientes em coma responde a estímulos auditivos.
Um estudo que utilizou música em cinco pacientes, publicado em 1995, mostrou respostas variadas em todos os testes. Dois pacientes demonstraram uma resposta no Eletroencefalografia. O restante respondeu pela abertura ocular ou movimentação de extremidade.
Em 1994, um paciente em coma foi exposto a quatro tipos de estímulos auditivos por 20 minutos, duas vezes ao dia, durante duas semanas. Os resultados mostraram que as vozes de familiares e de amigos tiveram a melhor taxa de resposta. Foram medidos os batimentos cardíacos, a pressão arterial, a respiração e a manutenção da temperatura corporal do paciente.
Hospitais de Campinas, no estado de São Paulo, já usam áudios de familiares para auxiliar no tratamento de pacientes intubados por causa da covid-19. O objetivo é diminuir a confusão mental provocada pela sedação. Os familiares enviaram áudios da rotina doméstica, da comida sendo preparada, mensagens de carinho e músicas preferidas.
Com informações da Scielo Brazil (Scientific Eletronic Library Online) e do Portal G1.