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Novembro Azul é um mês para falar sobre o câncer de próstata e, também, sobre a saúde do homem com um todo

ISAC aborda o câncer de próstata em live do Novembro Azul

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Dr. Antônio Moreira, médico oncologista do HEDA, tira dúvidas sobre saúde masculina e orienta sobre prevenção e tratamento do câncer de próstata

Cuidar da saúde é um compromisso para a vida toda, mas algumas pessoas precisam de um lembrete, principalmente o público masculino. Por isso, no mês de sensibilização para o combate e prevenção ao câncer de próstata, o ISAC – Instituto Saúde e Cidadania veste a camisa do Novembro Azul.

Este ano, cartazes e palestras sobre a conscientização da saúde masculina marcaram a campanha na sede e nas unidades geridas pelo Instituto. E para reforçar a importância da campanha, o ISAC realizou uma transmissão ao vivo, no dia 24 de novembro, no perfil @isac_os no Instagram.

Confira a entrevista conduzida por Kamilla Araújo, gerente de Comunicação e Marketing do ISAC, com o Dr. Antônio Moreira, médico oncologista no HEDA – Hospital Estadual Dirceu Arcoverde, em Parnaíba (PI), especialista em Clínica Médica e Oncologia Clínica.

KAMILLA ARAÚJO – Doutor, eu gostaria que o senhor começasse explicando o que é o câncer de próstata e qual a importância de falarmos sobre isso.

  1. ANTÔNIO MOREIRA – Quando a gente fala de câncer estamos falando de uma doença maligna, uma doença que tem a capacidade de invadir e de se disseminar para outras regiões do corpo. Portanto, o câncer pode se apresentar em qualquer lugar do nosso corpo.

O mais comum de todos é o câncer de pele. Já o câncer de mama é o principal tipo de câncer no sexo feminino, excetuando o câncer de pele, e, no homem, o principal é o câncer de próstata, também excetuando o câncer de pele.

Por isso, em outubro, temos a campanha do Outubro Rosa, de conscientização sobre a prevenção do câncer de mama e, em novembro, temos a campanha do Novembro Azul, para conscientizar os homens sobre o diagnóstico precoce do câncer de próstata.

KAMILLA – São dois temas importantes. No mês de outubro a gente abordou sobre o câncer de mama, onde também fizemos uma live no perfil do ISAC no Instagram, e quem quiser saber mais é só pesquisar em nossos posts. Agora, voltando ao tema atual, quais são os fatores de risco associados ao câncer de próstata?

  1. ANTÔNIO – Dentre os fatores de risco, o principal deles, em qualquer tipo de câncer, é a idade. Foram observados, por exemplo, em um estudo de autópsias (publicado em 2008), que cerca de 50% dos homens acima dos 80 anos tinham câncer de próstata, mas que não haviam sido diagnosticados em vida nem apresentavam sintomas.

O câncer de próstata é um tipo de câncer muito prevalente no homem porque, com o tempo, as células vão envelhecendo, e quanto mais velhas as células, maiores são os riscos de mutações, que aumentam os riscos de formar um câncer. Por isso, a idade por si só já é um fator de risco.

Esse fator de risco começa a aumentar, principalmente, a partir dos 40 anos. E aqueles que chegam próximos aos 80 anos de idade têm entre 20% a 50% de chance de serem diagnosticados.

Já os outros fatores de risco são globais, ou seja, são concomitantes a outros tipos de câncer. Alguns deles são a obesidade, má alimentação, tabagismo e ausência de atividade física.

De acordo com dados do Instituto Nacional de Câncer (INCA), cerca de 75% dos casos no mundo ocorrem a partir dos 65 anos
Embora seja considerado um câncer da terceira idade entre os homens, os cuidados devem ser tomados, principalmente, a partir dos 40 anos de idade (Foto: Freepik)

Os processos inflamatórios da próstata ainda são discutíveis, mas um dos fatores de risco importantíssimos é o histórico familiar.

Então, todo câncer de próstata é de origem familiar? A resposta é não. A grande maioria surge espontaneamente. Ou seja, se você tem um caso na família, não obrigatoriamente você vai ter câncer de próstata. E você pode não ter histórico na família e, mesmo assim, apresentar o câncer de próstata.

De todo modo, quando você tem alguém na família com histórico de câncer de próstata, principalmente com menos de 50 anos, esse risco aumenta, especialmente se forem os familiares de primeiro grau – pai, avô, irmão, filho – e também os de segundo grau – primos, tios.

Além disso, não é apenas o câncer de próstata. A principal mutação associada ao câncer de próstata é a mutação do gene BRCA, que também está presente em outros tipos de câncer.

Então, por exemplo, por mais que você não tenha familiares com câncer de próstata, mas tenha um familiar com histórico de câncer de mama ou câncer de ovário, isso também constitui um fator de risco. Portanto, dê atenção a toda sua árvore genealógica para ver se existe esse componente.

KAMILLA – O senhor abordou sobre manter um estilo de vida saudável para reduzir os fatores riscos, além da questão da idade e também sobre observar todo o histórico familiar. A partir de que idade o homem deve se preocupar efetivamente em fazer os exames para prevenir o câncer de próstata?

  1. ANTÔNIO – Os índices de câncer de próstata geralmente acontecem a partir dos 40 anos, é muito raro ocorrerem antes disso. Logicamente, se você estiver apresentando algum sintoma que possa sugerir que seja câncer de próstata, procure o médico especialista, que é o urologista.

Resumindo, você não vai encontrar câncer de próstata em um adolescente e raramente em um jovem de 20 e poucos anos, pois, geralmente, esse fator de risco é maior a partir dos 40 anos.

Portanto, a orientação é que todo homem dê mais atenção em relação à sua saúde a partir dos 40 anos, que é quando começam a aparecer não apenas as doenças oncológicas, mas outras doenças crônicas, como o diabetes, hipertensão, problemas de colesterol, problemas ósseos.

Sendo assim, o paciente deve começar a fazer o rastreio de doenças, com um clínico geral, e o acompanhamento anual, com um urologista.

KAMILLA – Doutor, uma dúvida: o câncer de próstata tem sintomas? Existem aqueles primeiros sintomas que ligam um sinal de alerta para a pessoa procurar um especialista e começar a investigar e fazer os exames?

  1. ANTÔNIO – Tem, sim. Obviamente, as lesões iniciais dificilmente vão apresentar sintomas, porque é um nódulo muito pequeno, com um ou dois centímetros de tamanho. São as alterações maiores que causam os sintomas.

É aquele paciente que, persistentemente, sente dificuldade para urinar ou o contrário, precisa urinar várias vezes durante o dia na tentativa de esvaziar a bexiga, mas fica com aquela sensação de esvaziamento incompleto, o que chamamos de tenesmo urinário.

É quando sente dor ao urinar, mas não uma dor aguda que passa após tomar um antibiótico. A maioria dessas dores agudas, aliás, são infecções urinárias ou prostatites (inflamações). Estou falando daquele paciente que passa dois ou três meses e continua sentindo dor durante o ato de urinar.

Outro sintoma, que também é comum em doenças crônicas de qualquer tipo de câncer, é uma perda de peso sem uma explicação plausível. É quando o paciente está se alimentando bem, sua dieta não mudou, não teve diarreia e, mesmo assim, está perdendo peso.

E outro sintoma são as dores ósseas, porque o principal foco de metástase do câncer de próstata é o osso. Novamente, não estou falando de dor nas juntas, como joelho, cotovelo, ombro, mas de uma dor, por exemplo, no fêmur, o osso da coxa. É uma dor persistente e de intensidade maior, principalmente na região da coluna ou da bacia, ou ainda uma combinação dessas dores.

KAMILLA – Essas dores vêm sempre associadas com outra ou podem acontecer isoladamente? Porque, como o senhor citou, pode existir uma certa dor ao urinar e talvez possa ser confundida com uma infecção urinária.

  1. ANTÔNIO – Sim, o paciente pode ter dificuldade para urinar e também sentir uma dor óssea. Portanto, todo o diagnóstico, toda suspeita clínica dificilmente é baseada em apenas um sintoma.

Às vezes pode acontecer uma combinação diferente para cada tipo de paciente e a presença desse sintoma não significa, necessariamente, que o paciente tenha o câncer. Pode ser que tenha alguma outra doença benigna – e na maioria das vezes são doenças benignas. De qualquer forma, deve-se ligar o botão de alerta.

KAMILLA – E como é o processo de diagnóstico do tratamento do câncer de próstata, doutor?

  1. ANTÔNIO – O primeiro ponto é uma anamnese bem feita. O ideal é que o paciente procure o clínico, que é o médico que já o acompanha, ou um urologista, que é o médico especialista nessa área do trato urinário. O paciente vai relatar os sintomas e, a partir do momento que se tornam suspeitos, o médico vai pedir alguns exames.

Existem os exames laboratoriais, como o PSA (Antígeno Prostático Específico, em tradução livre), que é um exame de sangue, e os exames de imagem, como um ultrassom ou uma ressonância da próstata.

Toque retal avalia tamanho, forma e textura da próstata, enquanto o PSA mede a quantidade de uma proteína produzida pela próstata. A biópsia pode ser indicada caso seja encontrada alguma alteração nesses exames.
Toque retal e PSA, juntamente com a biópsia, são os principais exames para a detecção do câncer de próstata, e tudo começa com uma consulta médica (Foto: Freepik)

E existe o exame físico (toque retal), que idealmente deve ser feito pelo especialista, que é o médico urologista, pois possui a habilidade necessária para fazer esse tipo de exame e não o fará de modo indiscriminado. Mas todo médico, desde que habilitado, pode fazer esse tipo de exame físico.

É importante ressaltar que a dosagem de PSA alterada não quer dizer câncer, pois existem outras doenças que também aumentam o PSA. A prostatite, que é uma infecção da próstata, por exemplo, aumenta o PSA. A hiperplasia prostática benigna (HPB), que é um aumento da próstata, também vai produzir mais PSA. Portanto, a alteração do PSA não significa, necessariamente, que é câncer. Então, sem desespero.

O ideal é que o urologista avalie caso a caso. O médico pode, por exemplo, pedir um exame de PSA e outro de urina, e descobrir uma infecção no exame de urina. Ele vai tratar e repetir os exames após quatro a oito semanas para ver se baixou, e às vezes baixa só com o tratamento de um antibiótico. Porém, se tratou e não baixou, pode ser que seja uma outra doença.

KAMILLA – É sempre bom avaliar um pouco melhor.

  1. ANTÔNIO – Exatamente, porque a evolução do câncer de próstata é lenta. Logicamente, existem casos e casos, e a gente até encontra um câncer de próstata de evolução rápida, mas esse não é o padrão. Geralmente, o câncer de próstata é um câncer indolente, ou seja, com um crescimento, desenvolvimento mais lento.

Um profissional habilidoso consegue reavaliar esse paciente em um ou dois meses, e, se houver dúvida, se ainda não estiver claro, pode reavaliar em mais um ou dois meses. Até porque, se existe uma suspeita importante, o médico vai solicitar um exame chamado de biópsia, que é mais invasivo.

KAMILLA – E como os homens podem superar o medo e a resistência em relação aos exames de próstata? É uma realidade, infelizmente, que muitos pacientes masculinos deixam de detectar a doença em sua fase inicial, justamente por conta dessa resistência e também por preconceito.

  1. ANTÔNIO – O exame físico é estritamente rápido e indolor. Dura de cinco a dez segundos. Ou seja, é muito rápido. Obviamente, na hora em que o médico fizer o primeiro toque, ele pode identificar alguma coisa suspeita e fazer um exame um pouco mais detalhado, o que significa alguns segundos a mais.

O médico usa a ponta do dedo indicador e alguns também aplicam um anestésico local para diminuir o desconforto, mas mesmo sem o anestésico não dói absolutamente nada.

A próstata está muito próxima da região do ânus. Então, logo após o toque, o médico já consegue sentir se existe alguma irregularidade, se há algum nódulo endurecido, suspeito.

E aí sim, se encontrar algo suspeito, pode pedir exames complementares, incluindo ultrassom, ressonância ou até mesmo a biópsia da próstata. Resumindo, podem tirar esse estigma.

Além disso, se for do interesse do paciente, ele pode vir acompanhado de um familiar para se sentir menos desconfortável. Se quiser vir com esposa, filho, filha, irmão, irmã, pai ou mãe, por exemplo, ele pode, é um direito do paciente.

KAMILLA – De fato é muito importante a quebra desse estigma. Doutor, o senhor trouxe vários pontos: a importância de ter uma vida saudável, de procurar um especialista e fazer os checapes anuais. Eu gostaria que o senhor deixasse uma mensagem final sobre a importância da prevenção e, principalmente, do diagnóstico precoce no tratamento e até na cura da doença.

  1. ANTÔNIO – Anteriormente, predominava a ideia de rastreio, que é aquele diagnóstico antes dos sintomas. Hoje em dia, a procura é maior entre os pacientes mais sintomáticos. Isso porque ainda existem vieses, isto é, se precisa ou não fazer o PSA anualmente, se tem ou não que fazer o toque retal todos os anos.

Ainda não há consenso entre Ministro da Saúde e Sociedade Brasileira de Urologia, e não temos estudos definidores porque a maioria desses estudos foi feito em outros ambientes, como os Estados Unidos e a Europa, o que gera todo esse viés metodológico.

O que eu indico é que todo homem faça um acompanhamento médico anual ou bianual. Ao acompanhar a pressão e o diabetes, por exemplo, o médico também vai perguntar se tem algum sintoma, se sente dor ao urinar, se tem alguma dor óssea. As consultas anuais, com uma boa anamnese e acompanhamento devem acontecer independente se é para próstata. Este é um ponto que eu gostaria de destacar.

Outro ponto é que no Novembro Azul falamos não apenas da doença prostática, mas da saúde do homem, pois parece que o homem só vai descobrir que tem pressão alta em novembro, que tem diabetes em novembro. É preciso entender que isso vale para o ano todo.

Adotar um estilo de vida saudável ajuda a prevenir o risco de várias doenças, entre elas o câncer de próstata
É possível ter uma vida ativa e saudável sem nunca sofrer com o câncer de próstata. Faça exames regularmente, pratique exercícios físicos e cuide bem da sua saúde. (Foto: Freepik)

A sobrevida da mulher é maior, por exemplo, em comparação ao homem, tanto em tempo de vida quanto em qualidade de vida, porque elas se cuidam mais do que os homens. E os homens precisam se cuidar.

E o terceiro ponto é não ter medo do diagnóstico. A biópsia é feita com anestésico local, é um exame praticamente indolor. O paciente sente um incômodo no dia, mas no dia seguinte não sente mais nada, no máximo um incômodo bastante discreto.

Logicamente, não se faz biópsia de modo indiscriminado, apenas quando há indicação médica, mas também não precisa ter medo quando for solicitado. E quanto mais cedo o diagnóstico e tratamento, maiores são as chances de cura. A oncologia já evoluiu muito.

Sobre o HEDA

O Hospital Estadual Dirceu Arcoverde é custeado pelo Governo do Estado do Piauí e está sob gestão compartilhada do ISAC. Possui 278 leitos de internação e observação, oferece mais de 20 especialidades clínicas e cirúrgicas, e atende os casos de média e alta complexidade de urgência e emergência em seus três prontos-socorros: adulto, pediátrico e obstétrico. Em 2022, foi selecionado para participar do sexto ciclo do Projeto Lean nas Emergências e ficou entre os cinco hospitais do Brasil com o melhor desempenho.

Sobre o ISAC

O Instituto Saúde e Cidadania é uma organização social sem fins lucrativos com sede em Brasília (DF) e que gerencia unidades de pronto atendimento (UPAs), ambulatórios, multicentros de saúde, espaço saúde e hospitais. É a primeira OS do Norte e Nordeste – e a segunda da América Latina – a ser acreditada internacionalmente em Rede de Atenção à Saúde com o selo Acreditado Diamante da Qmentum Internacional.

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